Capítulo II – Um novo amigo, as suas histórias e as suas lições

Segundo capítulo da história do Frango independente que fugiu da capoeira por recriação própria. Espero que gostem!

Subiram novamente para o passeio e começaram a caminhar na direção indicada pelo gato, que parecia super energético e movia-se a uma velocidade relativamente grande.
— Tem calma, que as minhas patas não são ágeis e fortes como as tuas.
— Ao menos reconheces. — disse o gato, com o seu ar imponente do costume. Depois olhou para o frango, que lhe fazia uma cara a dizer “a sério?” e revirava os olhos. — Está bem, pronto, mas vamos então ao que interessa. Vou contar-te de quando passei fome pela primeira vez. Então, eu sou um gato de rua, como tu vês, e nunca tive uma vida completamente digna de um gato como eu. OK, OK, eu tive de aprender a dar valor a mim mesmo, porque não tenho ninguém que me ame. — admitiu o gato, com o olhar focado no chão. Abrandou por um bocado, e o frango, que já estava a ter outra vez a mesma reação de revirar os olhos, ficou com pena do gato. Sabia que a dona não o adorava como tudo no mundo, mas gostava dele e dava-lhe carinho e tempo. E isso já era muito para ele. Talvez não soubesse o que era ser amado como família, mas sabia o que era a falta de carinho e de atenção, quando a dona saía e ele ficava entregue aos frangos mais velhos, que tentavam picá-lo por também ser macho.
— Eu dou-te valor. Sou só um frango indefeso e esfomeado, e saíste do teu caminho para me ajudar. Isso demonstra simpatia e compaixão.
— Obrigado. — agradeceu o gato. Olhou para ele com uma cara um tanto comovida, mas depois olhou para a frente e continuou a sua história. — Mas pronto, então, eu comia ratos que caçava, e pássaros que apanhava, e erva-de-gato, como é óbvio, e, já agora, este terreno está cheio dela. Ah, também comia alguns croquetes de algumas pessoas que me davam quando eu ia a casa delas. Nunca deixei que ninguém me adotasse, quero ser selvagem. Sempre fiz tudo isto, desde que sou selvagem.
— Tu já foste doméstico?
— Eu… sim. Nasci de uma gata que uma senhora idosa tinha. Ela emprenhou e a senhora não reparou logo. Só umas semanas antes de eu nascer é que ela reparou. Dessa vez só me teve a mim, era o seu único filho. Por isso nunca brinquei com gatinhos bebés da minha idade quando era pequeno, só com a minha mãe. Quando eu a larguei e comecei a ficar um gato jovem, tipo adolescente, já completamente independente, porque eu ganhei independência muito cedo, ela deu-me a uma senhora da casa dos quarenta anos, que tinha uma filha adolescente que queria muito ter um gato. A mãe, Ana, falou nisso à senhora Helena e ela deu-lhe um gato, eu. A senhora Ana não me queria, e então fez prometer à filha Filipa que tomava conta de mim e assumia a responsabilidade. A Filipa estava muito contente por ter um gato, e então prometeu e tomou conta de mim durante imenso tempo. E foi durante esse tempo que eu descobri o que é ser amado. Ela levava-me para a escola para não me deixar sozinho na rua, porque a mãe dela não gostava de animais dentro de casa sem supervisão. Os colegas dela faziam-me mimos e eu era sempre o centro das atenções. Ainda não era adulto e sentia-me o gato mais feliz do mundo. Mas a filha da minha dona tinha imenso trabalho, porque a mãe obrigava-a a limpar a casa por causa do pêlo que eu largava. Até que um dia, quando ela entrou para o secundário, com todas as atividades que ela tinha na altura, música, dança, clubes de fotografia, desenho, teatro, e ainda aulas de pintura, para além das limpezas do chão e cuidar de mim, a Filipa não conseguiu aguentar a pressão e simplesmente adormeceu em cima dos livros quando estava a estudar para o teste do dia seguinte. Acordou sobressaltada com um grito da mãe, que recebera uma chamada da professora a dizer que ela não fazia os trabalhos de casa há uma semana. Levou um raspanete de meia hora enquanto se vestia à pressa, pois já estava atrasada para a escola, e ainda ouviu mais quando a mãe descobriu que ela que não tinha limpo o chão no dia anterior, pois ela estava a espirrar muito. Sim, a senhora Ana não reagia muito bem ao pêlo de gato, por isso é que pôs a filha a limpar, uma vez que foi ela que me quis. Então ela foi para a escola a chorar e sem mim. A senhora Ana pegou em mim, e eu lembro-me que comecei a miar para voltar para os braços da Filipa. Mas a mãe disse que tomava conta de mim enquanto ela estava na escola porque via que ela estava sobrecarregada e que eu estava a dar muito trabalho. Ela disse que não, que o problema não era eu, e que as aulas de dança eram cansativas e que o clube de teatro desgastava muito a cabeça. Mas a mãe não a deixava aliviar a carga horária. E, nesse dia, quando ela foi para a escola, pegou no carro e veio deixar-me ao lado da escola secundária de Vale de Cambra. Ela morava em São João da Madeira, e então eu preferi nem sequer tentar voltar para casa e ficar selvagem. Fiz a minha vida aqui e agora estou a contar a minha história de vida a um frango que conheci há uns minutos. Não quero voltar a ser doméstico, as pessoas são más e abandonam os animais sem eles terem culpa. A senhora Ana era mesmo má e exigia muito da filha. Sempre tive pena da pobre Filipe, que passou a sua infância em atividades e a trabalhar para ter as excelentes notas que tinha na escola. E ainda cuidava de mim. A Filipa é a única pessoa em quem confio e que sei que nunca me abandonaria. Ela ama-me como qualquer animal merece ser amado por alguém.
— Não sabia que tinhas uma história tão bonita por trás…
— Pois. Infelizmente ninguém sabe. Agora queres saber então sobre a primeira vez que passei fome?
— Sim.
— Então ouve. Foi uma vez em pleno inverno, quando deu um nevão. Eu tinha decidido que queria explorar o mundo, foi uns meses depois de me abandonarem. Então fui para a Serra da Freita, completamente sozinho. Comi bastantes ratos antes de ir, e quando fui estava muito frio. Andei por lá, cacei uns ratos mais gorduchos que por lá andavam, e quando estava a comer um senti frio no pêlo. Olhei para cima de mim e estava a cair neve por todo lado. Estava longe de casa, e decidi começar a caminhar. Mas a neve foi subindo, e eu não estava habituado àquelas temperaturas. As minhas patas estavam frias, e eu não conseguia aguentar mais o frio. Fui obrigado e subir para cima de uma árvore e a enfiar-me num buraco com dois esquilos. Controlei-me para não os comer e fui simpático. Eles receberam-me bem, e aqueceram-me quando ganharam confiança. Passadas umas duas horas, o nevão já estava a parar, mas eu estava cheio de fome e longe de casa, e a neve continuava lá no chão. Os esquilos queriam ajudar, mas só ofereciam nozes. Então eu esperei que o nevão parasse, e depois comecei a caminhar pela neve. Estava gelado quando saí dali, e soube que saí porque a neve foi ficando cada vez menos espessa à medida que eu andava. Até que cheguei a uma estrada que já só tinha possas e gelo, e aí sabia o resto do caminho e continuei a caminhar. Quando, vindo do nada, um carro chegou a derrapar e bateu numa árvore ao lado do sítio onde eu me encontrava. Cheio de medo, dei um salto e o meu pêlo ficou todo eriçado. Ainda tive mais frio e já estava cheio de fome. Dei uma corrida para aquecer e rapidamente cheguei a casa. O que vale é que os passarinhos estavam no chão a comer sementes e eu pude apanhar uns quantos. Deliciei-me e comer nunca me soube tão bem. E, como vês, também já passei fome. Claro que nunca mais me voltei a aventurar assim sozinho sem plano B e sem provisões, foi um erro da minha parte. O que interessa é que aprendi com ele, e é por isso que temos de errar para aprender.
— O erro é natural. A natureza não é perfeita. Quem não erra é porque não tenta e não faz. Eu nunca tive oportunidade. Agora que tenho quero experimentar tudo o que esta nova vida tem para me dar.
— Incluindo comer o que gostas como quiseres, porque tudo sabe melhor quando somos nós a preparar. Chegámos!
À sua frente estava um enorme campo com plantas do milho, cada uma com uma espiga dourada na ponta, enrolada em folhas compridas e verdes.
— Onde está o milho? — perguntou o frango. O gato desceu a erva até ao campo, dobrou uma planta com o seu próprio peso quando se pendurou nela e cortou a espiga com as garras. Depois desembrulhou-a e mostrou-a ao frango.
— Aqui.
— E tenho de fazer isso com todas?!
— Pensavas que era fácil ser selvagem? Já não tens comida a cair do céu.
— Obrigado, gato, o que faria sem ti…
— Procurar grãos de milho e feijão cozido no chão?
— Pois, sim… A propósito, tiveste alguém a ensinar-te como ser selvagem?
— Não, nós os gatos temos instinto natural. Vocês frangos passaram demasiadas gerações em cativeiro e perderam o vosso.
O frango pareceu indignado e um tanto ofendido, tal foi o olhar que lançou ao gato.
— Sem ofensa, são factos cientificamente comprovados. A culpa não é vossa, mas sim de quem vos domesticou.
— Pois… É frustrante saber que nos tiraram a liberdade e a capacidade de sobreviver num ambiente selvagem.
— Acredito. Os cães foram iguais a vocês. Também já foram selvagens.
— A sério?
— Sim, tens muito para descobrir. Nós gatos fomos exceção. Já agora, de onde achas que vieram essas asas que não consegues usar para voar.
— De quando a nossa espécie era selvagem? — perguntou o frango, espantado, com a asa levantada e a olhá-la fixamente.
— Sim. Aposto que a tua espécie voava.
— Quando?
— Derivas das perdizes.
— Aqueles pássaros lindos?! Não parece nada…
— Evolução. A Natureza é cheia de mistérios por descobrir, não é?
— Parece que sim. Eu adoro.
— O mistério que me intriga mais neste momento é como é que um gato e um frango se conseguem dar bem.
— É verdade, como te chamas? — perguntou o frango, com um tom sério. O gato pareceu um bocado atrapalhado.
— Uh… sabes que mais? Agora sou selvagem. O meu nome é Gato.
— Nesse caso eu sou o Frango e ainda tenho fome.
— Então deixa-me explicar-te como se faz para colher o milho. Observa e aprende. — disse o Gato. Subiu para cima uma das plantas, que se dobrou imediatamente, e caminhou até à ponta, que literalmente tocou no chão. — Trepas a planta ou penduras-te nela, como eu fiz à bocado, e depois identificas a espiga e corta-la rente. Assim. — explicou, ao mesmo tempo que cortava delicadamente a espiga com a unha comprida e afiada.
— Uau! E isto não é grande demais para eu comer? Davam-me farinha disto, e agora percebo porquê… — questionou o Frango, um pouco espantado.
— Mr. Frango, sempre a complicar! — lamentou-se o Gato. Pensou por uns segundos, enquanto olhava em seu redor. Depois sorriu instantaneamente. — Já sei! Tive a ideia mais revolucionária da história! — gritou o Gato, num tom de voz muito alto. Depois começou a correr de um lado para o outro, sempre atento ao chão.
— E… que ideia é essa? — quis saber o Frango, intrigado. — Um moinho para moer a farinha? Um… moinho que mói a farinha sozinho?! — exclamou, excitado com a ideia.
Até que o Gato volta a rebolar uma pedra enorme e pára à sua frente com um sorriso eufórico.
— A sério, uma pedra? — disse o Frango, desiludido e num tom que transmitia aborrecimento. Revirou os olhos e voltou a fixá-los na “ideia revolucionária” do Gato. — Eu nem sequer consigo pegar nisso! É demasiado pesada e vai arranhar as minhas penas todas. — resmungou o Frango, e passou o bico nas penas que tinham sido estragadas pelo carro, para as alinhar. Depois fez uma expressão facial de repulsa, e começou a lamber a erva.
— Que se passa? — perguntou o Gato, deixando escapar um risinho.
— As minhas penas sabem a fumo. — explicou o Frango, com um ar de total desagrado. — E agora o meu bico sabe a erva. Tu disseste que comias erva-de-gato?
— Yup.
— “Yup”?! É mais “eww”…
O Gato não conseguiu evitar rir-se.
— São gostos. — disse. — A Natureza quer que nós gatos gostemos de erva porque precisamos dela.
— É. A Natureza é fantástica.
— Frango, acabaste de sair da capoeira e ainda só viste a tua região. Quando estiveres dentro da casa de alguém vais descobrir outro estilo de vida. És como um gatinho que acabou de abrir os olhos. Tem calma, sei que agora é tudo excitante para ti, mas agora vais construir o teu estilo de vida, e com as experiências que vais viver serás capaz de escolher aquele com que te identificas mais. E eu estarei sempre aqui para te ajudar.
— Obrigado, Gato. Mas agora podes mostrar-me a tua ideia para fazer farinha de milho? É que eu ainda tenho cada vez mais fome…
— OK. — começou o Gato. — Observa e aprende. Primeiro, tens de tirar a espiga da planta, assim. — explicou, enquanto exemplificava. Com a espiga deitada no chão, pousou a pata esquerda da frente na espiga dourada escondida pelas folhas verdes e a direita no caule partido que já fizera parte da planta do milho. Depois pressionou a planta para evitar que esta saísse do sítio e moveu para a esquerda a pata que segurava na espiga através de uma abertura nas folhas que a abraçavam. Esta deslizou no momento em que se separou da planta que lhe dera origem. — Vês? Fácil! — exclamou o Gato, e continuou a explicar. — Agora só tens de debulhar a espiga, usando mais ao menos a mesma técnica. Seguras a espiga com uma das patas, ou no teu caso, uma das asas, e com a outra empurras os grãos de milhos para que estes se soltem da espiga. — continuou, pondo o seu método em prática para provar que funcionava e para ensiná-lo ao jovem Frango. Um grão de milho soltou-se da espiga com um estalido e caiu no meio de um tufo de erva, enquanto a sua superfície lisa refletia a luz do Sol.
— Hum… Continua a ser um bocado para o grande, não achas? — perguntou o Frango, parecendo confuso.
— Ainda não acabei! Agora espera e ouve. — disse o Gato, e estava a recuperar o fôlego para continuar com a sua explicação no momento em que o Frango tomou a palavra.
— Espera e ouve?! Diz isso ao meu estômago…
— A sério, Frango, tens mesmo de aprender a ser paciente. Viste como apanhei aquele rato, mesmo antes de começar a falar contigo para te transmitir os meus inteligentes ensinamentos sobre um estilo de vida selvagem? Se me tivesse precipitado o meu almoço fugiria a correr (literalmente). — aconselhou o Gato. — Sim, porque já ouviste aquela expressão de “A comida não foge.”? Pois, é mentira; aqui ou tomas a atitude certa ou ela foge, seja “fugir” de “correr pela vida” ou “fugir” de “desaparecer porque outro animal qualquer decidiu garantir que a fome não seria um problema para ele nas próximas horas”.
— Exato… Nunca imaginei que fosse assim…
— Ainda tens muito que aprender, jovem frango. Mas eu terei todo o gosto em acompanhar-te nesta caminhada que te permitirá conheceres o mundo que te rodeia e saberes viver nele, adaptando-te ao ambiente e às situações e desafios que a vida de proporcionar.
— Pois, pois, obrigado. Mas agora gostaria que me ajudasses a sobreviver a essa caminhada, terminando a explicação do processo pelo qual o milho deve passar antes de o comer. — focalizou o Frango. Quando se trata de comida, quem não gosta de ir direto ao assunto?
— OK, então permite-me que exemplifique. — recomeçou o Gato, enquanto colocava a pedra e o grão de milho lado a lado. Depois usou todas as suas forças do gato ágil que era para elevar do chão o pesado calhau o número de centímetros suficientes para passar acima do pequeno grão. Durante a demonstração da sua “ideia revolucionária”, o Gato lutava constantemente para conseguir falar e suportar o peso da pedra simultaneamente, pois o fôlego parecia-lhe insuficiente, o que o impedia de adquirir uma linguagem clara e de fácil compreensão. — Depois… fazes… assim… e tentas… tipo… esmagar o… grão…. Assim! — tentou explicar o Gato, e gritou “Assim!” enquanto largava a pedra mesmo por cima do grão. Ouviu-se um estalido quando a pedra o esborrachou, e quando o Gato fez a pedra rebolar para o lado, a casca exterior do grão estava estalada. — Vês? Assim já deves conseguir comê-lo. Experimenta. — sugeriu ao seu amigo esfomeado.
O Frango, radiante, não conseguiu tirar os olhos do pequeno grão que, naquele momento, parecia ter adquirido o brilho característico do ouro. Pelo menos para aquele jovem frango, que o via como um tesouro. Atirou-se a ele e usou a pequena fenda na casca para esgravatar com o bico até ter devorado todo o grão.
— Que bom! Já não me lembrava que comer era tão fixe! Mas um grão não me tirou a fome…
— Óbvio que não! — exclamou o Gato. — Tens noção da quantidade de grãos necessários para fazer a quantidade de farinha suficiente para te encher o comedouro apenas uma vez?
— Não…
— Pois, então não queiras ter. Imagina apenas um monte de cinco a dez espigas inteiras.
— Inteiras?!
— OK, talvez esteja a exagerar. Por volta de cinco espigas.
— Mesmo assim é muito… Isso explica muita coisa…
— Pois, tipo porque é que ainda continuas esfomeado depois de UM grão de milho?
— É…
— Agora temos é que debulhar e esmagar esta espiga inteira. Vamos a um trabalho de equipa? Eu esmago e tu debulhas.
— Claro que sim. — concordou o Frango. E puseram mãos à obra.
Não foi preciso dizer duas vezes. O Frango apenas apanhou o jeito depois de inúmeras tentativas desesperadas para debulhar o milho. Mas, como não tinha grande força nas asas, só considerou uma vitória total quando começou a usar as patas, cujas unhas afiadas foram de muita utilidade na tarefa. Aprendeu a enfiá-las entre os grãos de milho para os empurrar para fora da espiga, um trabalho de precisão e que requereu algum treino e principalmente tempo. Mas, quantas mais vezes repetia, melhor o fazia e mais depressa o realizava. Numa hora, debulhou sete espigas, tendo demorado aproximadamente dez minutos nas primeiras que debulhou e cinco nas últimas.
O Frango comeu aproximadamente três quartos de uma espiga, e depois ficaram a debulhar mais espigas e a esmagar grãos por mais duas horas. Até que, quando acabaram, ao fim das três horas, de debulhar a vigésima oitava espiga, o Gato se lembrou de um pormenor.
— Frango, importas-te de vir aqui?
— Que se passa?
— Eu não vou ficar o resto da tua vida contigo, por isso convém que saibas fazer tudo sozinho. Consegues deitar esta espiga abaixo da planta? É que fui eu que apanhei as espigas todas hoje. — perguntou ele, apontando com a pata da frente do lado esquerdo para uma planta imponente de milho que, como quase todas as outras que ainda estavam de pé, guardava uma espiga cor-do-Sol.
— Não sei… — respondeu o Frango, hesitante. — Deixa-me tentar.
Aproximou-se da planta, e tentou subir para cima dela para a dobrar. Mas, para além de ser muito leve, não dominava o corpo como o Gato e o seu equilíbrio não era suficiente para que se mantivesse de pé ou até agachado em cima da fina planta. Então decidiu mudar de estratégia, mas também não foi capaz de se pendurar na planta, pois não a conseguia dobrar e, independentemente da posição do caule relativamente ao solo, sempre que tentava segurar a planta fosse de que maneira fosse, as penas das asas escorregavam pelo caule e o cenário final era sempre o Frango no chão e a planta de pé.
— Pois… — disse o Gato, pensativo, enquanto o Frango tentava pela trigésima vez sem sucesso uma das estratégias, desta vez puxar a planta com quantas forças tinha. Mas não conseguia agarrar firmemente na planta e acabou novamente no chão.
— Gato, achas que consigo cortar o caule com as minhas unhas? — perguntou o Frango, já a ficar desesperado e aberto a quaisquer sugestões.
— Tenta. — sugeriu o Gato, virando-se para o Frango. Este tentou, mas a planta era demasiado grossa e percebeu ia demorar uma eternidade apenas a triplicar o pequeno golpe que conseguira fazer na planta durante um minuto inteiro.
— Não dá. — lamentou-se o Frango. — Eu não sou capaz.
— Cortar…. — repetia o Gato, aparentemente sem prestar atenção às lamúrias do Frango. Parecia determinado a encontrar uma solução. — Cortar…
O Gato olhou em volta virando energicamente a cabeça, à procura de uma solução no meio do terreno. O Frango percebeu que a encontrara quando os seus olhos verdes vivos brilharam e um sorriso apareceu repentinamente no seu focinho, afastando os bigodes mais do que o habitual. O Gato saiu disparado a correr. Apanhou uma cana já meia seca comprida, tirou-lhe as folhas amarelas e começou a correr o mais depressa que conseguia com ela na boca até chegar ao sítio onde se encontrava um vidro castanho semi-enterrado, perto do passeio, que outrora fizera parte de uma garrafa de cerveja que provavelmente havia sido atirada para o campo depois de vazia. Voltou novamente ao outro canto do terreno a correr com as duas coisas na boca e pousou-as para apanhar uma folha de piteira grossa e resistente. Apressou-se a voltar para a beira do seu amigo, onde usou as unhas aguçadas e bem tratadas para fazer uma ranhura na ponta ainda verde da cana, paralela à sua extremidade e a uns dois centímetro desta. Depois enfiou o pedaço de vidro triangular curvado na mesma extremidade da cana oca, até este fazer pressão nas paredes da cana. Finalmente, passou a piteira pela ranhura e depois deu a volta ao vidro pelo lado oposto. Repetiu o movimento várias vezes, com a ajuda das quatro patas à vez, das garras, da boca e dos dentes afiados. Quando chegou à ponta oposta da piteira, o Gato esforçou-se por dar um nó o mais fixo e resistente possível, e depois prendeu a ponta da piteira numa das voltas que já tinha dado com a mesma. Assim que terminou, agarrou a sua engenhoca com a boca e exclamou o mais claramente que conseguiu:
— Taran!!! E aqui eztá a holuchão bara todoz oz teuz broblemaz!
— Uau! O que é? — perguntou o Frango, entusiasmado. O Gato pousou a sua engenhoca no chão e fixou-a com o olhar enquanto falava.
— Vou batizá-lo de “Corta-Milho”! O que achas?
— Espetacular! E serve… para cortar o milho?! — adivinhou o Frango, cada vez mais excitado com a ideia de ser independente.
— Como o próprio nome indica. — afirmou o Gato. E voltou a olhar para o Frango. — Não é preciso ser-se um génio para perceber isso. — esclareceu. Depois pegou na sua invenção novamente com a boca e dirigiu-se à pobre planta de milho que fora escolhida para cobaia das experiências e tentativas falhadas do Frango que, de tão intrigado que ficara com a correria do Gato, cessara de tentar tudo exceto perceber o que se passava com o seu amigo. Compreendeu assim que o Gato balançou o Corta-Milho com a lâmina de vidro no ar, cortando o caule da planta em plena queda e com um corte limpo e seco, de uma só vez. Os olhos amarelos do Frango brilharam de excitação quando o Gato olhou para ele com um sorriso tão grande que fazia com que alguns dos seus bigodes quase se enfiassem nas grandes orelhas.
— É a tua vez. — anunciou o Gato.
— Estou tão contente! — exclamou o Frango. Pegou com as asas no Corta-Milho que o Gato deixara no chão à sua frente, segurou-o na vertical e tentou manipulá-lo para que este cortasse a planta. Após algumas voltas, lá conseguiu acertar com o caule e a parte de cima da planta com a espiga caiu no chão.
— Fantástico! — gritou o Gato. — Afinal, apesar de vocês frangos não terem sido compensados com capacidades físicas, debaixo desse monte de penas e dessa crista vermelha existe alguma coisa a trabalhar. E acredita em mim quando digo que essa cabeça é capaz de fazer muito mais para além de agitar um pau no ar, só precisas de um bocadinho de treino para fazeres tudo o que quiseres.
— Achas?! — exclamou o Frango, ainda mais entusiasmado.
— Habituaste-te depressa à vida selvagem, vais ver que daqui a umas semanas vais estar a desenrascar-te como um gato não tão bom como eu, mas quase. — afirmou o Gato, todo confiante e orgulhoso de si, como sempre.
— Obrigado? — agradeceu o Frango, um pouco confuso. Mas começava a perceber a essência daquele gato, e de alguma forma a achá-la interessante. Sabia que por trás daquele ar imponente e orgulhoso estava escondido um lado um tanto sensível e muito atencioso do Gato, que ele revelava apenas em algumas situações através de determinadas atitudes e reações. Mas a forma como ele era alegre e engraçado dava claramente para perceber que o Gato não fazia aquilo por maldade; era apenas caráter e fazia parte da sua maneira de ser. Lá no fundo, o Frango sabia que aquilo o tornava único e especial, e que o seu amigo tinha um coração enorme, incapaz de passar indiferente a qualquer situação em que possa ser útil (talvez ensinar um jovem frango a ser selvagem, mesmo que tenha de passar horas com ele a cortar e a tratar o milho para que o Frango o possa comer).

Capítulo I – Fuga da capoeira

Uma história de aventura e luta pela sobrevivência que começou quando o meu irmão me pediu que lhe contasse uma história. Eu pedi-lhe que escolhesse um animal, e ele lembrou-se, sabe-se lá como, do frango.

Espero que gostem do primeiro capítulo da história, e vou colocando os restantes à medida que a for escrevendo.

Obrigada!

Capítulo I – Fuga da capoeira

  Num concelho situado num vale verde havia uma senhora velha, que vivia na sua casa com o seu marido e os seus animais. Tinha gatos para lhe apanharem os ratos, galinhas para dar ovos, e coelhos, frangas e frangos, que criava para vender. A sua cozinha encontrava-se separada do resto da casa e era ligada diretamente ao exterior, onde andavam os gatos a passear e as galinhas a desenterrar bichos e plantas, quando lhes era dada a liberdade, o que acontecia normalmente uma vez por dia.
  Até que um dia, na capoeira onde estavam os habituais dezasseis frangos que costumava comprar, um deles tomou consciência do que se estava a passar quando viu o seu ex-companheiro a ser vendido a uma rapariga jovem pela senhora idosa que considerava sua dona. Tomou então a decisão da sua vida, e completamente sozinho baseou-se na sua rotina diária e elaborou um plano de fuga da capoeira. Ao fazer isto, reparou que a liberdade não estava tão longe como sempre imaginara.
  Dito e feito. No dia seguinte, assim que a sua dona abriu a porta para colocar a habitual refeição da manhã, que nesse dia era feijão cozido, a sua preferida, o frango atirou-se à senhora e começou a dar às asas, a gritar e a picá-la com o bico. A pobre senhora, surpreendida e limitada pelos problemas de saúde que lhe foram aparecendo com a idade, soltou um grito e caiu ao chão, sem se conseguir equilibrar com as dores adicionais que o jovem animal lhe causara. Gritou asneiras e palavrões de raiva e frustração, e chamou pelo marido o mais alto que conseguiu:
  — António! Anda ajudar-me, eu caí e um dos frangos fugiu! Amanda-lhe com a vassoura que está aí encostada à parede, a ver se ele volta!
  O velho senhor chegou a correr e não hesitou em pegar na vassoura e começar a perseguir o frango inocente e indefeso, que acabara de deixar a sua casa pela primeira vez na vida. O frango já tinha corrido metade do caminho até ao pequeno portão fechado de arame farpado, mas as suas patinhas não lhe permitiam atingir grandes velocidades e o dono aproximava-se de vassoura na mão, pronto a fazer com que o frango desse umas voltas valentes. Vendo que as suas esperanças estavam a acabar e que a dona ficara alertada de que ele queria fugir, o que diminuiria as hipóteses de ser bem sucedido numa segunda tentativa de escapatória, o frango ganhou coragem, acelerou o máximo que pôde e deu um salto alto como nunca antes dera. Bateu as asas desesperadamente, o que lhe deu a altura de que precisava para saltar o portão, que media aproximadamente um metro de altura. Só parou de as bater quando atingiu o chão do outro lado, e continuou a correr para fora de casa. O dono, atrapalhado e sem acreditar no que acabara de acontecer, tentou abrir o portão, mas o mundo parecia estar a favor daquele corajoso frango e o portão prendeu, não permitindo que o velho senhor o abrisse rapidamente. Isto deu tempo ao frango para voltar a olhar em frente e chegar ao segundo portão, maior do que o primeiro que ultrapassara. Enfiou as asas brancas entre os arames farpados ferrugentos e puxou com todas as forças que ainda tinha. Não estava habituado àquilo, e só esperava por um campo verde onde pudesse descansar e comer o almoço que substituiria aquele que lhe permitiu alcançar a liberdade. Surpreendentemente, o portão, que só estava encostado, abriu uma frecha e o frango escapou-se por ela o mais rapidamente que conseguiu. O dono, que conseguira finalmente abrir o portão, já só estava a dois metros dele, a segurar a vassoura na sua direção. O frango voltou a olhar para a frente e correu pela subida de terra acima, na ânsia que os donos desistissem dele. No entanto, escorregou numa pedra solta e agarrou-se com a asa alaranjada da ferrugem do portão que abrira a uma erva mais carnuda que lá se encontrava. Fez uma força enorme para se puxar para cima, e conseguiu apoiar rapidamente a pata numa outra pedra mais firme. O dono  estava já com as mãos à volta dele, a tentar agarrá-lo para o levar novamente para a capoeira, no momento em que o frango empurrou a pedra para baixo e saltou até ao passeio que se encontrava em frente e por cima da casa dos donos. Isto fez com que o senhor caísse de frente e ficasse apoiado no meio das ervas e das pedras, com os braços cruzados e a vassoura aos pés. O frango olhou para trás enquanto atravessava a estrada, ainda a correr, aparentemente sem movimentação. Quando, no momento em que o frango já estava a uns centímetros da tira central da estrada, onde estavam árvores plantadas e erva a crescer, juntamente com flores coloridas, um carro passou a alta velocidade e raspou-lhe as penas do rabo. O frango gritou e olhou para si. As suas queridas penas traseiras estavam queimadas e estragadas da fricção e faltava a maior, que fora arrancada pelo carro. Assim que olhou para o lado da estrada de onde acabara de sair, viu o dono a abanar a vassoura no ar e a gritar palavrões o mais alto que a sua voz lhe permitia. Decidiu atravessar para a outra margem, mas desta vez olhou antes de atravessar e correu de um lado ao outro da estrada.
  Depois manteve-se quieto, e sentou-se na beira do passeio, simplesmente a observar o novo mundo que nunca imaginara que existia por cima daquela casa. Uma estrada, carros coloridos a passar nela e pessoas a passear no passeio, que passavam perto dele e lhe lançavam olhares interrogativos e um tanto desconfiados. Uma mulher jovem, que aparentava estar na casa  dos trinta, passou mesmo ao lado dele, e o cão que ela passeava cheirou-o, curioso. O frango só não fugiu porque estavam a passar carros na estrada, e já tinha tomado consciência do perigo que aquilo significava para qualquer animal ou pessoa. Mal ela se foi embora, o frango olhou para a outra margem, e verificou que o dono parecia já ter desistido. Olhou à sua volta à procura de espaços verdes, e encontrou um completamente do seu agrado, mesmo ao lado da casa dos seus ex-donos. Ex-donos era uma maneira engraçada de dizer. Soava-lhe a liberdade eterna e independência, a poder viver como queria e como a Natureza mandava; como os gatos vadios e os pássaros, que passavam ali todos os dias: faziam o que queriam e andavam por onde bem entendiam. Eram livres. E provavelmente não davam tanto valor à liberdade que lhes era dada como aquele frango, que sabia perfeitamente o quão mau era viver confinado a um espaço de quinze metros quadrados para toda a vida. Mas agora aquele pesadelo acabara e considerava que tinha acordado num lindo dia de primavera. Seria uma viragem na vida daquele inocente frango. Era provavelmente o frango mais feliz de todo o mundo naquele momento.
  Decidiu então voltar a atravessar a estrada até meio para verificar se o dono não estava escondido à espera que ele voltasse. Como ele não parecia ter pensado em pregar uma partida ao seu frango que já não era seu, o frango atravessou o resto da estrada, sempre com cuidado e atento aos carros. Agora já não era de ninguém: queria ter a sua personalidade e ser ele mesmo para o resto da sua vida.
  Mas estava cheio de fome, pois não tinha comido a refeição da manhã. Então decidiu ver se havia algum feijão por ali no chão, pois de tanto que as galinhas esgravatavam deviam encontrar alguma comida no meio da terra, dos bichos e da erva verde e seca. Assim o frango decidiu imitar as galinhas e começou a esgravatar a terra à procura do feijão da dona.
  — Tem de andar por aqui, de certeza que existe aqui algum! - disse o frango para si mesmo, numa tentativa de se encorajar. Nunca tinha sentido a necessidade de procurar comida, e não sabia se estava a procurar da maneira certa ou no sítio certo.
  O sol subiu no céu e o frango continuava sem encontrar um único grão para comer. A fome estava cada vez maior, e as suas forças estavam fracas, pois desde o dia anterior que não comia nada, pois já não tinham comida na capoeira e ele não comeu quando a dona foi reabastecer, tudo pela sua liberdade. Começava a pensar se aquilo fora uma boa ideia. Se ia deprimir de qualquer maneira, então mais valia comer bem e viver o resto da sua vida na capoeira até ser vendido a uma pessoa qualquer contra a própria vontade, provavelmente para ser comido. De certeza de que se voltasse iria direitinho para a panela, a dona não arriscaria outra vez a esperar para o vender. E se não fosse, provavelmente não voltaria a conseguir fugir. Mais valia ficar ali, ao menos tinha hipóteses de acontecer um milagre e cair alguma comida do céu. Ou pelo menos aparecer alguma debaixo do chão… mas já estava ali há horas e começava a perder a esperança. Simplesmente decidiu continuar a procurar, afinal as coisas não podiam piorar. Estava livre, mas sem nada para comer. Os frangos estavam geneticamente adaptados a viver em cativeiro, mas com comida. Sem comida não há quem se adapte.
  Mais uma hora se passou, e a fome era tanta que a tentação de voltar começou a crescer com ela. Só queria uma boa refeição… Cada vez acreditava mais que aquilo era o pior. Mas mudou de opinião quando apareceu um gato a caminhar de forma sorrateira na sua direção. Ligeiramente agachado, estava escondido no meio da erva alta e meia seca devido à ausência de chuva nos últimos dias. Era preto e branco às manchas, com uma branca à volta de um dos olhos, e tinha um corpo de um gato composto e elegante. Também parecia muito ágil e determinado e, apesar de estar quase a esfregar o pêlo macio na terra, este mantinha-se impecável e sem ponta de sujidade. O frango voltou a olhar para si. As penas de trás estavam estragadas e acinzentadas devido ao carro que quase o atropelara e as asas alaranjadas e sujas pela ferrugem do portão. Naquele momento deu valor aos momentos em que as suas penas eram brancas como a neve, e ao quão macias ficavam quando a dona lhes fazia festas e mimos. Sentia pena em deixar a sua dona. Ela podia matá-los, mas sabia amar os animais e dar-lhes uma vida digna. Curta mas digna. Será que tinha melhorado a sua vida ou a sua decisão torná-la-ia uma luta constante pela sobrevivência, sem momentos de prazer ou sem amor? Esta questão tomara conta da sua cabeça, e só conseguiu focar-se a cem por cento na realidade quando o gato deu um salto veloz de metros de comprimento, com um ar ameaçador e as patas estendidas para a frente. O frango, assustado, fechou os olhos, protegeu a cabeça com as asas e gritou com todas as suas forças.
  — Por favor não me comas! Ainda sou muito jovem!
  Mas apenas ouviu um gemido ao seu lado, e decidiu olhar. O gato estava esticado rente ao chão, com um rato recém-morto entre as patas com as garras afiadas saídas a espetar o rato. Não parecia ter reparado no frango, e quando este gritou olhou para ele um tanto intrigado.
  — Tem calma, galinha, eu não te vou comer. — disse, e pegou no rato pelo rabo, colocando-o dentro da grande boca de uma só vez. Depois mastigou-o calmamente, tempo que o frango aproveitou para esclarecer as coisas.
  — Ah… pois, acontece que eu não sou uma galinha.
  — Ai não? Então o que és? — perguntou o gato sem lhe dirigir o olhar, e enquanto lambia as patas para as limpar dos restos do rato, que ainda o lambuzavam.
  — Sou um frango, e com muito orgulho. — afirmou o frango, tentando parecer confiante. Mas a fome que tinha não deixou que fosse muito convincente.
  — Ai és? Pois, mas aposto que não consegues fazer como eu fiz para caçar aquele rato. Viste? Era dos gordos…. Normalmente são os melhores, e também os que fogem menos…. Uma vez, apanhei um tão gordo, tão gordo, que me deu para duas refeições. Acreditas nisto? — contou o gato, acentuando a palavra “duas”. Reparou numa pata do rato na erva e comeu-a enquanto falava com a boca ainda cheia. Depois olhou para o frango todo sujo. — Tu não devias viver ali em baixo com os teus amigos?
  — Pois… acontece que eu tomei a decisão de fugir, pois tomei consciência de que a minha dona me queria comer.
  — Há quanto tempo fugiste? Vocês são fracotes, não se aguentam vivos nem dois dias fora da capoeira!
  — Fugi há umas horas… e estou a morrer de fome, ainda não encontrei um único grão no chão.
  — Andas a esgravatar a terra, frango idiota? Pensas que vai aparecer algum feijão por aí, como aqueles que eu vejo a tua dona cozinhar e pôr na capoeira?
  — E não vai?
  — Ainda por cima cozido! Aqui não cai comida do céu, e não há feijão cozido. Ela é que o coze. És mesmo ignorante, se não fosse eu para te safar…
  — Ajudas-me, gato? Por favor, há horas que não como nada…
  — Pode ser, também não me custa nada. O que comes?
  — Feijão…
  — Para além de feijão.
  — A minha dona dava-me farinha de milho, uns croquetes, couves, feijão,…
  — Milho, hã?… — disse o gato, pensativo. Refletiu por uns segundos enquanto caminhava para ao lado de uma planta na descida para a casa da dona do frango e depois continuou. — Conheço um campo de milho não muito longe daqui, podemos ir lá buscar algum.
  — A sério, vais ajudar-me?! — exclamou o frango, com os olhos radiantes. Seguia o gato para onde quer que ele fosse, pois sabia que ele podia ser aquele que o ajudaria a criar um novo estilo de vida.
  — Não agradeças. — disse o gato, ao mesmo tempo que afiava uma das unhas no tronco estreito da planta e a analisava para ver se estava suficientemente afiada. Depois olhou o frango com um sorriso. — Vamos?
  — Tudo pela comida! Isso se conseguir chegar lá…
  — Eu estou aqui, tem calma. Ou achas que ainda não passei fome?
  — Já?
  — Eu conto-te, mas vamos caminhando. — sugeriu o gato.

Story board – Amor imprevisto no passeio pelo jardim

Criada em conjunto com o meu irmão que, num jogo inventado por ele, contou uma versão desta história e desenhou parte dela com o estilo cómico que procurei imitar aqui, esta é uma história simples desenhada no computador com um design cómico, devido à expressividade dos personagens e à simplicidade dos desenhos, onde a princesa é salva pelo seu salvador de um feiticeiro mau que a tenta enfeitiçar.

Nota: “ler” com esta ordem:

1 2
3 4
5 6
7 8

Imprevistos no passeio pelo jardim.

Jogo – “Fabiana – dia-a-dia de uma Geek”

Para quem leu e gostou da história: um pequeno desafio feito no site LearningApps sobre “Fabiana – dia-a-dia de uma Geek”.

Jogo 1 – estilo “guess the word”

Jogar no site.
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Jogo 2 V1 – estilo “puzzle grupo”

Jogar no site.
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Jogo 2 V2 – estilo “puzzle grupo”

Jogar no site.
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Jogo 2: A versão 1 apenas diferencia da 2 na imagem que é descoberta no final.

Personagens história Fabiana

Fabiana (esquerda) e Joana (direita), duas das três personagens principais de uma história escrita por mim. Esta estará disponível aqui no site ainda em Agosto de 2020.

Fabiana e Joana, alunas do 8º/9º e 7º/8º anos, respetivamente.